Cemitério dos Pássaros foi selecionado entre as dez melhores peças no Concurso de Dramaturgia Feminina do Projeto La Scrittura della Differenza, na Itália, concorrendo com mais 10 países e centenas de outras peças. Monólogo inédito, fala do suicídio na terceira idade. Apesar de ser um tema pesado, em que o personagem vive o conflito entre as dores, as doenças e o amor pela vida, o texto melancólico em alguns momentos chega a ser irônico em outros, trazendo para o palco aquilo que não costuma ser dito, mas pensado e muitas vezes vivido. O texto é primoroso e a montagem da peça, simples em sua concepção por se tratar de um monólogo, atrai a todos os públicos, inclusive os da terceira idade, atualmente abundante nas salas de espetáculo. Realista, aprofunda a questão da solidão, a distância de uma vida vivida com a alegria de um corpo sadio e os entraves que, muitas vezes, impedem o prazer na velhice.
Não é à toa que Cemitério dos Pássaros já nasce predestinado ao sucesso. É uma peça de notável conteúdo artístico, que comove plateias e ajuda a refletir sobre a nossa pequena estadia no mundo.
Sem ter exatamente com quem dialogar, homens e mulheres, acima dos 60 anos, passam uma boa parte de suas vidas entregues à sua própria sorte, quase destituídos de amor próprio, muitas vezes revoltados, alvos dos preconceitos, da discriminação e da segregação social. Já aposentados, em geral precisam sobreviver com parcos rendimentos, tendo que destinar uma boa parte dos recursos para cuidarem de suas saúdes, o que sabemos ser uma empreitada de fôlego tanto no aspecto financeiro quanto na dificuldade de locomoção. O nosso personagem é a síntese disso. Apesar de equilibrado, mas bastante revoltado com a vida que lhe prega essa peça desconfortável que é envelhecer num grande centro urbano, durante uma noite inteira ele se confronta com a sua situação atual ao mesmo tempo que visita o seu passado e não se contenta com um futuro já previsível. Nesse confronto alguém dentro dele sai perdendo, e é isso que aos poucos vai sendo revelado.